segunda-feira, 18 de novembro de 2013


Sabedoria X inteligência


Quando fazemos uma palestra numa casa espírita, muitas vezes nos deixamos guiar por nossos mentores espirituais.
Mesmo porque a função das palestras é passar ensinamentos, sabedoria, compreensão, e claro, ninguém melhor que espíritos lúcidos, esclarecidos desencarnados para nos passar estes ensinamentos.
No entanto esta palestra foi dada baseada em fatos do cotidiano de minha vida. Achei que assim como um ente amado meu não conseguia entender, talvez outros irmãos também pudessem estar passando pelas mesmas dificuldades.
Tenho um filho casado com uma mulher 10 anos mais velha que ele. Tanto meu filho quanto minha nora estão no segundo casamento. Ele não teve filhos no primeiro casamento e ela tem um casal, na época que se casaram a menina tinha 16 anos e o menino 18, os dois na adolescência, quem tem, ou teve filhos na adolescência sabe como é.
Naquele sábado eu estranhei quando vi o carro dele estacionar em frente da casa. Pela fisionomia percebi que estava aborrecido. Abri-lhe a porta, convidei a sentar, e perguntei se aceitava um café, coisa que jamais recusava.
Ao entregar-lhe o café perguntei o que havia acontecido. E ele desfiou um rosário.
Que estava decidido a separar da esposa, que já não suportava mais, que entre viver num inferno preferia viver sozinho. Eu apenas escutava. Dizia que a enteada era desleixada, que passava o dia vendo TV, não ajudava com as tarefas da casa, deixando todo o trabalho para a mãe quando chegava do trabalho cansada. Que os garotos não tinham responsabilidade alguma, respeito, ou coisa do gênero. Que se ele comprasse 5 Kg de uvas ao vir do trabalho e colocasse na geladeira, no dia seguinte não havia um bago de uva, comiam tudo e deixavam o prato sujo na geladeira.
Que o mesmo acontecia com refrigerantes ou outras guloseimas. Os dois eram egoístas, só lembravam-se deles.
Ele e a mãe nunca tinham direito a nada.E desfiou o rosário sem fim por um bom tempo.
A gota dágua tinha sido o enteado pegar o carro dele sem autorização, sem habilitação, e ter arranhado o carro.
Então ele não falou nada, entrou no carro e veio para minha casa para que eu abençoasse a decisão dele de separar da esposa.
Quando terminou todo o relato, depois de umas 3 xícaras de café ele olhou pra mim e disse, é isso ai mãe, não estou aguentando mais.
Então olhei para ele e perguntei. E a tua esposa? O que ela  fez?Ele olhou para mim sem dizer nada, como se não estivesse entendendo. E eu continuei... Meu filho, vc chegou aqui dizendo que ia separar de sua esposa, porque estava vivendo num inferno. Eu estou querendo entender onde está a culpa de sua esposa.
Ele ficou roxo de raiva e já vociferando me respondeu....Mãe os filhos são dela!
Eu olhei calmamente para ele e retruquei, “ Quer dizer que tudo que você e suas irmãs fizerem de errado eu devo pagar o pato? É isto que você está dizendo?Se vocês roubarem eu devo ser presa.Se baterem em alguém eu mereço ser surrada...
E ele me respondeu, mãe, os filhos são dela, eu não posso pedir para ela mandar os filhos embora.
Realmente, eu falei, porque se a situação fosse inversa, ou seja, se fossem seus filhos você não aceitaria,
A bem da verdade se fosse seus filhos você nem estaria se preocupando com eles devorarem tudo que vissem pela frente, porque estão em idade de crescimento, jovem é guloso mesmo, é egoísta mesmo, é malandro mesmo.
Você iria dar uma bronca neles  e 5 minutos depois teria esquecido.Ainda iria trazer mais 5 kg de uvas e avisar.
Deixem uva pra mim e sua mãe.Isto se eles fossem seus filhos, mas eles não são...Então eu acho que você deve mesmo separar de sua esposa.
Quanto a seu enteado pegar seu carro sem autorização e sem carteira....
Você esta lembrado de quantas vezes aquele meu Gol branco foi para o latoeiro?
E não era eu que arranhava, nem arrancava o retrovisor. Tão pouco eram suas irmãs.
Esqueceu foi? Mas eu não lembro de ter me separado de você por suas artes de adolescente?
E quantos pudins inteiros você comeu e deixou o prato sujo na geladeira? Esqueceu?
Lembra quantos finais de semana sua mãe cansada, tinha que abrir seus armários para tirar roupas sujas, que você escondia lá dentro?Esqueceu...
E aqueles 50 reais da feira que você pegou e gastou tudo em chicletes? Lembra? E o tamanho do buraco que fiz você cavar, descascar todos os chicletes jogar no buraco e depois tapar com terra.
Meu filho caiu na risada, me abraçou, e cochichou no meu ouvido, é por isto que te amo tanto.
Tomou mais uma xícara de café, se despediu dizendo que ia pra casa. Acompanhei-o até o portão
Acenei “dizendo” Vá com Deus”

Por Edite Vicente